Ano Comemorativo Ana das Carrancas na Uerj

Em 2023, a Uerj vai comemorar o centenário de Ana das Carrancas, ceramista nordestina que se tornou Patrimônio Vivo de Pernambuco, por representar a identidade, memória e tradição do povo brasileiro.

Ana Leopoldina dos Santos nasceu em 1923 em Ouricuri. Desde criança ajudava a mãe a moldar o barro na fabricação de louças. Na década de 1950, se muda para Petrolina com duas filhas e o segundo marido, buscando melhores condições de vida. Ao avistar as carrancas de madeira dos barcos que trafegavam pelo Rio São Francisco, teve uma inspiração. Passou a produzir carrancas em barro. O marido, cego, ajudava na feitura das peças, pisoeteando o barro. Em homenagem à ele, as carrancas tinham os olhos furados, numa referência à sua deficiência visual.


A artista não escondia sua fé e força, bem como o seu amor pelo barro. Entre suas criações, animais, cesta, bonecos, vasos, gandulas, respeito aos espíritos da natureza, delicadeza e feminilidade.

“O barro é o começo e o fim de tudo. Sem ele não sou ninguém. Foi ele que me deu o direito. Não me separo dele pra coisa nenhuma, porque eu amo aquilo que ama a mim. O barro é um caco de mim. Nas minhas veias corre sangue de barro”, dizia.

Ana das Carrancas faleceu em 2008, deixando um legado importante e muito reconhecimento: ganhou o Troféu do Conselho Municipal de Cultura do Recife e a Ordem do Mérito Cultural (2005) das mãos do presidente Lula e do ministro da Cultura Gilberto Gil. Em 2012, a revista Rolling Stone considerou a frase “O barro é minha vida e eu me sinto realizada com meu barro”, divulgada pelo dentista e jornalista Luciano Quadros, como uma das de maior impacto do século XX.

As obras da artista podem ser conferidas no Centro de Artes e Cultura Ana das Carrancas, em Petrolina, administrado pelas filhas Maria da Cruz e Ângela, também ceramistas, que produzem uma releitura do trabalho da mãe.

“Quando Jesus me chamar, espero estar preparada pra viajar. Mas onde encontrarem o caco de uma orelha de barro, digam ao menos, que Ana passou por aqui e deixou saudades. Meu sangue é negro, mas minha alma é de barro”, afirmava.

16 janeiro